Gordofobia
- Mariana Baldani

- 19 de ago. de 2020
- 3 min de leitura

Gordofobia é um preconceito com pessoas gordas e as atitudes de intolerância não existem de hoje. No período medieval (séculos V a XV), davam muita importância para questões da ‘alma’. Por isso, a prática de jejum, conhecida na literatura como “anorexia santa”, era comum para mortificar o corpo e, assim, fortalecer o espírito. Além disso, no século VI, o papa Gregório Magno estabeleceu os 7 pecados capitais, e a gula era um deles. Quanto menos a pessoa comia, mais pura e espiritualizada ela era. Portanto, o culto ao corpo magro em detrimento da gordura era habitual. Essa valorização de não estar acima do peso foi propagada e reforçada ao longo dos anos.
Atualmente, até mesmo os órgãos de saúde estimulam essa discriminação com campanhas publicitárias e soluções milagrosas para a perda de peso. Por isso, não é incomum de darem opiniões desfavoráveis como o pretexto de se preocupar com a saúde e querer ajudar e aconselhar o gordo – o que torna o problema ainda mais difícil de ser compreendido. Devido a isso, não há uma legislação que determine a gordofobia como crime, até o momento presente.
O gordo é visto como alguém que não tem controle sobre o próprio corpo, ou seja, como se ele não conseguisse gerenciar a própria saúde. Porém, determinar se a pessoa é saudável somente pela forma corporal não diz de fato sobre saúde. Imagine estes exemplos: 1) fulana tem um contexto de alimentação saudável, faz exercício físico 4 vezes por semana, não fuma, não tem nenhuma questão clínica e é gorda; 2) ciclana não tem um contexto de alimentação saudável, é sedentária, fumante, têm taxas elevadas de colesterol e triglicerídeos, foi diagnosticada com transtorno generalizado de ansiedade e é magra. Quem você julga ser mais saudável, a fulana gorda ou a ciclana magra?
Infelizmente, como a sociedade é gordofóbica, o fato da pessoa ter gordura já a define como não saudável. Ademais, a obesidade é indicada pelo cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC) que considera somente a razão entre o peso e a altura. Outros indicadores de saúde física e as saúdes mental e social não são considerados. O IMC surgiu no século 19 para determinar o que seria um “corpo humano normal” e é aí que o assunto se torna ainda mais crítico.
Essas tentativas de categorizar pessoas normais e anormais são eugênicas. Eugenia é uma teoria que tenta produzir uma seleção humana por meio de suas características genéticas e físicas. Portanto, o movimento eugenista tem o objetivo de “melhorar” a raça humana. O holocausto, a colonização e a escravidão foram marcos terríveis na história que levaram ao genocídio pela justificativa eugênica. No pensamento gordofóbico, o gordo é visto como anormal. Por esse aspecto, surgiu o termo “sociologia da obesidade”, do inglês healthism.
Sociologia da obesidade é o julgamento social ou moral sobre o gordo - maior ou menor - com base na sua saúde ou preocupação com seu corpo. Reforça-se a ideia de que o gordo é malvisto além da aparência: ele é qualificado como um ser ruim, peguiçoso, não contribuinte para sociedade, não admirável e não agradável. Essa moral negativa traz prejuízos à vítima, pois atinge sua saúde mental, além do sentimento de inadequação como ser. Por essa razão, precisamos falar sobre o assunto e mostrar o quanto a gordofobia é absurda, a fim de não normalizar seus comportamentos preconceituosos, nem o tratar como uma piada ou um assunto de pouca importância.
Mariana Baldani
Nutricionista CRN1-16572
Instagram: @nutricaocompassiva




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